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Qual é a proteína com menor teor de carbono?

Qual é a proteína com menor teor de carbono? Encontrar alimentos ricos em proteínas que sejam bons para o clima pode ser complexo.
Encontrar alimentos ricos em proteínas que sejam bons para o clima pode ser complexo. Isabelle Gerretsen investiga os dados para compreender quais escolhas alimentares que podemos ajudar a reduzir as emissões de carbono.

Quando estamos nos referindo à redução de nossas emissões individuais de carbono, uma das medidas mais impactantes que podemos tomar é comer de forma mais sustentável. A produção global de alimentos é responsável por 35% de todas emissões de gases com efeito estufa de origem humana. Embora os produtos animais representem a maior parte das nossas emissões alimentares, eles fornecem somente 20% das calorias mundiais.

Os produtos animais, como os laticínios, ovos, peixe e carne, são conhecidos como boas fontes de proteínas, e obter a quantidade certa de proteína é essencial para o nosso organismo crescer e se reparar (Leia mais sobre quantas proteínas nós realmente precisamos consumir).

Para aqueles que querem ter uma dieta com baixo carbono, mas também nutritiva, obter a quantidade certa de proteína pode ser um desafio. O quadro é complicado pela grande quantidade de produtos disponíveis, muitos dos quais afirmam que são “neutros em carbono” ou “sustentáveis” sem realmente provar estas afirmações.

Então, como seria realmente uma dieta rica em proteínas, e com baixo teor de carbono? Quão ruim para o clima são a carne e os laticínios? Quão mais sustentável é comer apenas proteínas vegetais, como tofu, grão-de-bico e ervilhas? É melhor cortar o queijo ou frango? Que alternativas sem animais tem a mais baixa emissão de carbono?

A BBC Future propôs-se a responder estas questões, usando os dados da maior análide dos sistemas alimentares, compilados por Joseph Poore, um pesquisador da Universidade de Oxford, e Thomas Nemecek, que estuda o ciclo de vida dos alimentos no instituto de pesquisas suíco Agroscope.


Carne


Segundo a análise, a carne bovina gera 49.9kg equivalente de CO2, ou CO2e, por 100g de proteína, equivalente à quantidade de quatro bifes. As proteínas com a segunda maior emissão de gases com efeito estufa (GEE) são os cordeiros e carneiros, que geram 19.9kg de CO2e por 100g.

O Q U E É C O 2 E ?


CO2 equivalente, ou CO2e, é a métrica utilizada para quantificar as emissões de vários gases com efeito estufa com base na sua capacidade de aquecer a atmosfera – o seu potencial de aquecimento global.

Há muita ênfase na carne bovina que as pessoas frequentemente esquecem outros tipos de carne e os seus impactos”, diz Anne Bordier, diretor de dietas sustentáveis no Instituto World Resources.

Vacas, ovelhas e cabras são todos ruminantes, animais com mais do que uma câmara estomacal que arrotam o metano quando digerem os seus alimentos. Embora tenham vida mais curta na atmosfera, o metano é um gás altamente potente que tem um impacto no aquecimento global 84 vezes superior ao dióxido de carbono (CO2) durante um período de 20 anos.

Além da elevada taxa de emissão de metano na pecuária, são emitidos gases de efeito estufa para produzir e transportar alimentos para animais e manter a exploração pecuária, diz Sophie Marbach, a física e pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisas Científicas na França que realizou uma análise de emissão de carbono da carne e das proteínas lácteas em 2021.

A carne proveniente de um rebanho leiteiro tem um baixo índice de emissão de gases com efeito estufa que a carne de um rebanho bovino porque se obtém mais alimentos em troca de todos os recursos investidos na vaca (ração, terra, água e fertilizante), diz Bordier. “[Além da carne de vaca], estas vacas produzem leite, que também será usado como alimento [para outros animais]… Portanto, é globalmente mais eficiente,” ela diz.

As vacas leiteiras normalmente produzem altos rendimentos de leite durante cerca de três anos, depois elas são abatidas e a carne é utilizada como alimento.

A carne de pequenos animais não ruminantes, como a galinha, o peru, o coelho e o pato, tem baixa emissão GEE (gases efeito estufa) do que a carne de vaca e de cordeiro. A galinha, por exemplo, tem uma emissão GEE de quase nove vezes mais baixa do que a de gado – gerando 5.7kg de CO2e por 100g de proteína.

Isto é “muito baixo”, diz Sarah Bridle, professora de alimentação, clima e sociedade da Universidade de York no Reino Unido. “Isto é quase similar ao cultivo de peixes e ovos.”

A emissão de carbono para a carne de porco (7.6kg) é 6.5 vezes mais baixa do que a carne bovina e 1.4 vezes mais alta que as aves domésticas (5.7kg).

Lacticínios


É o queijo, não o frango, nem o porco, que tem a terceira mais alta taxa de emissão na agricultura, depois da carne de cordeiro e a carne bovina.

Há o consenso de que ‘ser vegetariano é ótimo’, mas esquecemos que o queijo é na verdade bastante intenso em carbono,” diz Marbach, notando que isto se deve à elevada produção de metano das vacas e o fato de que elas requerem “muitas necessidades para pouca produção”.

A emissão GEE (gases efeito estufa) para o queijo (10.8kg de CO2e por 100g de proteína) é quase duas vezes superior ao frango e também superior à da carne do porco e dos ovos (4.2kg de CO2e).

As emissões alimentares podem variar muito dependendo do tipo de queijo que estamos consumindo. Os queijos mais duros, como o parmesão, são mais intensos em carbono do que os queijos moles porque são feitos com mais leite, diz Bridle. Os queijos mais moles contém mais água – há 50% mais água no queijo cottage do que no cheddar, por exemplo, ela diz.

A emissão GHG (greenhouse gas), GEE (gases de efeito estufa) do queijo de vaca é similar à dos queijos de leite de cabra ou ovelha “porque são todos ruminantes,” diz Bridle. “Mas o queijo da vaca é provavelmente o mais eficiente porque as vacas leiteiras produzem grandes quantidades de leite.” De acordo com os dados do Ministério do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido, uma vaca leiteira produziu em média de 8,200 litros (1,800 galões) no ano passado.

Queijos mais duros, como o parmesão, são mais intensivos em carbono do que queijos macios porque são feitos com mais leite (Crédito: Alamy)

O iogurte, entretanto, é surpreendentemente pobre em carbono, 2.7kg de CO2e por 100g de proteína, pois não é necessário muito leite para produzí-lo (muito menos do que no caso do queijo) e há uma série de subprodutos, como creme de leite e manteiga, que a emissão GHG é distribuída através de numerosos artigos alimentares, diz Marbach.

Plantas


Os produtos animais são responsáveis por 57% das emissões globais relacionadas com a alimentação, em comparação com os alimentos de origem vegetal que contribuem com 29% do total.

O Comitê de Mudança Climática do Reino Unido (CCC) recomendou uma redução de 20% no consumo de carne e lacticínios até 2030, aumentando para 35% até 2050 para a carne, a fim de atingir os objetivos climáticos do país.

As opções de emissões mais baixas seriam adotar uma dieta vegana e cortar completamente a carne e os lacticínios. Se o mundo inteiro se tornasse vegano, as emissões globais relacionadas à alimentação diminuiriam até 70% até 2050, de acordo com os estudos da Escola Martin Oxford na Universidade de Oxford.

Uma dieta rica em ervilhas, leguminosas secas e frutos secos podem ser incrivelmente pobres em carbono. Produzir 100g de proteínas a partir de ervilhas emitem somente 0.4kg de CO2e. Isto é quase 90 vezes menos do que obter a mesma quantidade de proteína de uma carne bovina. Outras leguminosas, como as lentilhas, tem uma emissão GEE (gases de efeito estufa) de 0.8kg de CO2e. A produção de tofu, entretanto, gera 2.0kg de CO2e por 100g – estas emissões estão na sua maioria ligadas à limpeza das terras para a produção de soja, diz Bridle.

Ao cruzar o grão-de-bico selvagem com variedades cultivadas, a empresa norte-americana Nucicer criou o pó de grão-de-bico com alto teor de proteína, o que, segundo ela, também reduz o CO2e na colheita. O pó pode ser usado como farinha sem glúten em massas e produtos cozidos.

Ao aumentar o teor protéico, a Nucicer foi capaz de produzir mais proteína por acre e reduzir a quantidade global de energia e água necessária, diz Kathyrn Cook, a chefe executiva e cofundadora da empresa. “Isto realmente ajuda no impacto ambiental de nossas fontes de proteína,” ela diz. Os grãos-de-bico são também altamente eficientes em água e em fixar o nitrogênio do ar no solo, o que é vital para o crescimento das plantas, acrescenta ela.

Uma dieta rica em ervilhas, leguminosas e nozes pode ser incrivelmente baixa em carbono (Crédito: Wolfgang-Kaehler/Getty-Images)


Peixe e frutos do mar


Quando citamos os peixes e os frutos do mar, é ainda mais difícil de calcular o GEE (gases de efeito estufa). Pode variar muito dependendo das espécies e da forma em que são pescados. O cultivo de camarões tem uma emissão maior (18.2kg de CO2e por 199g) do que o cultivo de peixes (6.0kg de CO2e). Isto porque os manguezais, que armazenam enormes quantidades de carbono, são frequentemente destruídos e convertidos em viveiros de camarões.

Mas os moluscos bivalves, incluindo os mexilhões, ostras, vieiras e ameijoas, tem mais baixa emissão GEE, cerca de seis vezes inferior do que a criação de camarões e aproximadamente 3.5 vezes inferior do que a criação de peixes, diz Jessica Gephart, professora assistente em ciências ambientais da Universidade Americana em Washington DC.

Em 2021, Gephart e seus colegas analisaram o impacto ambiental dos frutos do mar através de uma série de fatores, incluindo as emissões de gases com efeito estufa, a poluição e o uso de água limpa.

O cultivo dos músculos bivalves tiveram a melhor pontuação em todas as áreas. Entretanto, os músculos bivalves capturados na natureza não tiveram um bom desempenho no que diz repeito às emissões de gases com efeito de estufa – tem de cinco a 10 vezes mais emissões que outros, diz Gephart.

A criação do molusco bivalve não necessita de alimentação animal uma vez que filtram os nutrientes da água e podem ser colhidos sem uma grande necessidade de energia. Os moluscos bivalves selvagens são frequentemente colhidos por dragagem – o que envolve o reboque de redes grandes e rígidas ao longo do fundo do mar. É um processo intenso de carbono que afeta o carbono armazenado nos sedimentos e resulta na liberação de CO2, o que acidifica o oceano.

Um estudo estima que a dragagem do fundo do mar produz até um bilhão de toneladas de CO2 anualmente – equivalente às emissões de aviação mundiais e superior às da Alemanha.

A proteína produzida em laboratório


Desde a carne celular, que utiliza as células coletadas de animais vivos, até a carne vegetal feita de soja ou de proteína da ervilha, e lacticínios sem vaca produzidos de fermentação de precisão, temos agora uma grande variedade alternativa de carnes e lacticínios a escolher se quisermos evitar produtos animais.

Mas como se comparam a carne e os lacticínios tradicionais, quando se tratam de emissões?

De acordo com um estudo realizado em 2020 por Raychel Santo, um pesquisador no Center for a Livable Future em Baltimore, as carnes vegetais geram 1.9kg de CO2e por 100g, enquanto a carne celular produz 5.6kg, em comparação com as emissões de GEE (gases com efeito estufa) da carne de vaca de 25.6kg. Embora as emissões de carne celular fossem significativamente inferiores do que às da carne tradicional, eram cinco a 21 vezes superiores às emissões de proteínas vegetais, como as leguminosas, tofu e ervilhas, segundo a pesquisa de Santo.

Um grande proporção de emissão pela carne celular provém da energia necessária para fabricar os produtos, diz Santo. As células coletadas dos animais são armezanadas e criadas em bioreatores, que são altamente intensos de energia.

“Os substitutos das carnes vegetais tem emissões GEE (gases com efeito estufa) menores do que a maioria das carnes e das carnes à base de células, mas o atum selvagem (1.2kg), insetos (0.9kg), tofu (1.2kg) leguminosas menos processadas (0.4kg) e ervilhas (0.3kg) tem a mais baixa emissão do que todos alimentos ricos em proteína”, diz Santo.

Os mexilhões têm uma pegada de gases de efeito estufa que é cerca de seis vezes menor do que os camarões cultivados e 3,5 vezes menor do que os peixes cultivados (Crédito: Alamy)

A emissão em relação à carne celular é substancialmente inferior à da carne de vaca e cordeiro, de acordo com as pesquisas de Hanna Tuomisto, professora associada em sistemas alimentares sustentáveis da Universidade de Helsínquia na Finlândia.

De acordo com a análise de Tuomisto, substituindo completamente a carne tradicional pela carne cultivada resultaria em uma redução massiva de 78-98% nas emissões de GEE (gases com efeito estufa), a 99% de redução no uso do solo e 45% de redução no uso da energia.

As proteínas sem animais produzidas usando fermentação de precisão tem uma emissão mais baixa do que das canes cultivadas, diz Tuomisto. A fermentação de precisão – também conhecida como produção de recombinação de proteínas – envolve a inserção de sequencias específicas de DNA dentro de células não animais, como a bactéria, leveduras ou outros fungos, que permitem que a produção de proteínas sejam idênticas às encontradas nos lacticínios tradicionais e nas carnes.

Estes microorganismos são mais simples do que as células animais utilizadas na carne celular, diz Tuomisto, que nos leva as inúmeras vantagens. Tem um metabolismos mais rápido e “produzem mais proteínas com menos insumos”, ela diz, adicionando que, ao contrário da carne cultivada, eles não necessitam aquecimento, pois produzem eles mesmos o calor, enquanto se duplicam. Isto significa que em geral a emissão GEE é significativamente mais baixa.

A empresa americana Perfect Day está utilizando esta tecnologia para produzir alternativas lácteas sem animais, incluindo sorvetes e leite. O soro de leite que Perfect Day produz tem uma pegada GHG de 0,3kg de CO2e por 100g de proteína, 35 vezes inferior à proteína do leite (9,5kg de CO2e), diz Liza Schillo, a directora de sustentabilidade e impacto social da empresa.

De acordo com a avaliação do ciclo de vida, comparado com o total de proteína no leite, a proteína do soro de leite Whey Protein é 91-97% mais baixa em emissões GHG, parte dela é devido a 29-60% demanda mais baixa de energia.

Se a nossa proteína do soro de leite livre de animais é usada somente 5% dos produtos lácteos nas prateleiras dos EUA atualmente, nós pouparíamos o equivalente aos gases de emissões de efeito estufa de 140,000 vôos de ida e volta entre São Francisco e Nova York e energia suficiente para distribuir a Washington DC por seis anos,” diz Schillo.

Há também companias, como a Solar Foods, que estão produzindo substitutos de carnes feitos de bactérias alimentadas por hidrogênio. A companhia Finnish tem produzido uma proteína em pó amarela de micróbios que são alimentados de gases, incluindo CO2, hidrogênio e oxigênio, que serão usados como aditivos na alimentação ou como meios para o cultivo de carne de cultura.

Estas proteínas de gases fermentados são alternativas de carnes com o mais baixo teor de carbono “como estão usando energias renováveis”, diz Tuomisto. Criar hidrogênio da água, como a Solar Foods faz, requer uma grande quantidade de energia. Se os renováveis são usados para gerar a eletricidade, o conjunto de emissões GHG de gás de proteínas fermentadas será muito similares às proteínas vegetais, ela diz.

Estas pesquisas tem se revelado que há muito mais caminhos que um para reduzir as emissões de nossas escolhas alimentares enquanto obtemos amplas quantidades de proteínas. Enquanto cortar uma grande quantidade de produtos animais de nossa dieta é um caminho poderoso para reduzir as emissões, há outras trocas para fazer a mudança também.

Se alguém não quiser desistir da proteína da carne animal completamente, por exemplo, a melhor coisa será adotar uma dieta que consiste somente em comer pequenos animais (galinha, pato, coelho), ovos e iogurte, de acordo com a pesquisa de Marbach.

Aderindo isto “baixo CO2, dieta com altas proteínas”, uma pessoa pode reduzir as emissões individuais de carbono até em 50%, diz Marbach. Adotando uma dieta vegetariana, que contém muitos produtos lácteos, especialmente o queijo, não será aproximadamente uma opção de “baixo CO2”, diz Marbach. Isto irá reduzir a emissão GHG da alimentação da pessoa de 20%, de acordo com a análise dela.

Mas isto clarifica que minimizando a nossa dependência em produtos aninamis ajudará a diminuir nossa emissão em geral. De fato, o Painel Intergovernamental da ONU de Mudança Climática (IPCC) diz que isto é fundamental se o mundo quiser cumprir os seus objetivos climáticos a longo prazo e limitar o aquecimento global a 1.5C.

Apesar da imensa tentativa dos produtos dos supermercados por serem sustentáveis, há poucas escolhas que poderão beneficiar o clima. Trocando a carne de vaca e cordeiro por tofu e grão-de-bico, ou verificando como o peixe e os frutos do mar que nós comemos são cultivados, podemos ter confiança que nossas escolhas alimentares estão realmente ajudando a reduzir as emissões.

https://www.bbc.com/future/article/20221214-what-is-the-lowest-carbon-protein

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